quinta-feira, 29 de março de 2012

Runaway Referee (Tradução para português: Rola em Fuga)

Era um Domingo de Novembro, ainda assim o Sol sentia-se generoso e os seus raios abraçavam o Municipal de Chaves em mais uma tarde de futebol do Nacional da 1ª de 92/93.
Frio, só mesmo o campeonato do Desportivo orientado por Henrique Calisto que apenas tinha ganho o 1ª jogo, e já estávamos na jornada 13. Os flavienses viam a equipa no fundo da tabela e no Topo Norte não restavam dúvidas de que havia "mão" da arbitragem no assunto. A empurrar para baixo, claro.
Naquela tarde o convidado era o Boavista do Major, treinado por Manuel José.
Em campo, de xadrez, entravam jogadores como Rui Bento, Tavares, o "mítico" Bobó ou os inesquecíveis brasileiros Artur e Marlon Brandão (o tal que ganhou a lotaria quando jogava no Valladolid). Pela parte do Chaves alinhavam históricos como Vítor Nóvoa, Lino (5ª época no clube, chegaria às 11), Paulo Alexandre (4ª época no clube, chegaria às 17!), Filgueira (5ª época), David (7ª época no clube, de 8), Manuel Correia (4ª época no clube, chegaria às 7), ou mesmo o flop Bakalov, que de craque só tinha (quase) o nome! Mas a figura, ou melhor o figurão da tarde, seria nem mais, nem menos que o homem de preto, António Rola.
O comentador diz no resumo "...o árbitro cometeu muitos erros, prejudicando mais o Desportivo de Chaves, especialmente no capítulo do fora de jogo...".
Tradução: arbitragem "inteligente" ao mais puro estilo "anos 90" (ou como dizia o outro, vocês sabem do que é que eu estou a falar!)





Como sempre, lá estava eu no Topo Norte, a assistir aos tais "..muitos erros..." referidos na "peça" pelo Rui Loura, uma "arbitragem" irritante até ao tutano. O Chaves perdia 0-1. Não satisfeito pelo protagonismo ao longo dos noventa minutos, Rola e suas duas asas (também conhecidos por bandeirinhas) decidem expulsar um jogador por tirar as caneleiras (ao mais "Apaixonado" estilo do ainda árbitro Bruno), para quê a pedagogia de informar que não pode jogar sem elas e tem que voltar a coloca-las, se posso mandá-lo já para a rua e aumentar a minha média de cartões mostrados?
Foi demais, a tal gota que fez transbordar o copo. Em nossa casa? NÃO! Sem esperar por comunicados a "expressar insatisfação" ou "protestos veementes conta a actuação do árbitro" vindos dos dirigentes, os flavienses decidiram defender, ali mesmo, a honra das camisolas azul-grená e da cidade que estas representam, com os próprios punhos, se necessário. Nem as redes, nem o arame farpado que as bordava, impediram que ficasse mais uma vez demonstrado que "para lá do marão...", homens e crianças, gente de todas as idades avançaram sobre o relvado com o objectivo de "depenar a rola". A passarinhar tropegamente rumo ao balneário, rola e suas duas asas perderam subitamente a coragem de mostrar mais vermelhos e levantar a bandeirola. Afinal, os flavienses, no seu bem receber apenas lhe queriam agradecer a simpatia e deixar-lhe um olho azul, outro grená, para que pudessem ver lá em Santarém como os transmontanos não são gente de deixar que alguém se vá sem levar a recordação que merece!
Eu não me atrevi a saltar para o campo. Enquanto via três homens de preto a desaparecer pela entrada para os balneários, pensava que tão cedo não voltavam a haver Domingos de futebol no Municipal.
Cobarde, no relatório escreveu que o jogo já tinha terminado. Quem lá esteve sabe que isso não aconteceu! Só se apitou ao engolir o apito durante a fuga. Afinal o homem era romancista, inventou dentro do campo e depois do jogo acabado!
No relatório, talvez escrito enquanto sentia os golpes na rede que tapava a janela da sua cabine, já não teve a coragem, a arrogância de antes.
Poderia pensar-se que, depois disto, jamais este homem se aproximaria de Chaves. Nada disso, quatro anos depois, o bom senso dos dirigentes da bola enviou-o de novo a Trás-os-Montes. Derrota com o Setúbal. E antes de deixar a arbitragem, novamente jogo como o Boavista do Major, novamente derrota. Coincidências........

A imagem "adquirida" no corrosivo blog Cromos da bola S.A.D. tem uma descrição do árbitro que parece feita por encomenda. Não tivesse a Rola patinhado depressa naquele dia.......






P.S.: 
Ninguém tenha dúvidas de que não é fácil ser árbitro, quem já experimentou, nem que seja em torneios do tipo "solteiros contra casados", sabe como é. Quando estamos a jogar achamos sempre que em qualquer entrada acertamos primeiro na bola e em nenhum caso uma mão nossa é intencional. Quando o jogo acaba e reflectimos chegamos à conclusão que não é bem assim, e em alguns casos o árbitro era capaz de ter razão! Agora, com certeza que ninguém é obrigado a seguir a carreira do apito. Ainda mais estranho é que todos eles tenham a certeza da honestidade dos restantes colegas de profissão. Um árbitro marca um penalti fora da área e todos os outros "põem a mão no fogo" que não foi intencional? Eu não posso garantir a ética de todos os meus colegas de profissão. Ser árbitro não é diferente de outra actividade qualquer, com certeza que a maioria será bom profissional e faz o melhor que sabe, tal como não se pode duvidar que existiram alguns desonestos, não por acaso até já os houve que foram irradiados. Ou então, como se verifica todos os fins-de-semana, sem qualidades para apitar na 1ª divisão (e não só na portuguesa). Vejam o que acontece com jogadores e treinadores. Quantos chegam a equipas de topo. Se confirmam a qualidade ficam ou até saem para colossos estrangeiros. Não demonstram a qualidade esperada, voltam ao nível que lhe corresponde. Veja-se o exemplo dos dois Fábios saídos do Rio Ave. Saíram os dois para o Benfica. O Coentrão está no Real Madrid, o Faria regressou à procedência. Não querem ser criticados? Fiquem em casa ou então não se enganem! Um senhor chamado Pierluigi Collina também se deve ter enganado algumas vezes e com certeza foi criticado, e ninguém duvidou da sua honestidade, portanto....

(imagem inicial: Blog Futebol de Salto Alto)

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